segunda-feira, 11 de abril de 2011

Minha casa é daquelas antigas, de cômodos amplos, azulejos desenhadinhos e piso de taco no chão. O muro da garagem está todo descascado. Precisa de pintura, mas só compensa fazer o serviço se o vizinho arrumar a infiltração do outro lado.
Na parede embaixo da janela da sala, que sempre foi a porta de entrada da gata Chuchu, há várias marcas de patinhas. Na janela ao lado, do quarto das meninas, um expositor de bonés quadriculado, sem os apoios para os acessórios, foi estrategicamente colocado para evitar os pulos da gata na cama da criança que tem asma.
O pé de acerola, gigante, com folhas saindo pelo portão, denuncia a falta de poda. Também próximo à grade, o pé de mamão faz sombra no limoeiro infelizmente destruído pela cachorra Lila. Debaixo dessa árvore, um novo pé de limão começa a nascer, mostrando que o time das frutas cítricas continua no páreo. Por artes dos passarinhos, há um pequeno mamoeiro nascendo em um buraco no cimento do quintal dos fundos, bem ao lado do indescritível quartinho de bagunça.
Dentro de casa, a pia da cozinha, anterior à minha família, nunca foi trocada porque temos causas mais urgentes. Os armários são todos brancos, mas os diferentes puxadores indicam variadas histórias. Tem o paneleiro dos meus tempos de república, a peça que comprei da Mari quando ela se mudou, um modelo de parede feito sob medida para o apartamento da avenida São João... E a mesa, essa sim comprada especificamente para a atual cozinha, que me vi obrigada a providenciar quando dei conta que a família era maior que a mesinha redonda de quatro cadeiras de 1998.
Na sala, o aparador é na verdade um antigo expositor da Garageland. Sobre ele, presentes, fotos, bonequinhos, lembranças de viagens, revistas, um pote cheio de conchas de São Chico. Sofá, estante, uma TV de 20 polegadas, cortinas feitas pela amiga da mãe e uma caixa de ferramentas cheia de jogos e acessórios para Wii dividem espaço com livros abertos largados no chão, desenhos, chinelinhos escondidos nas frestas (que a família inteira procura até alguém lembrar do esconderijo da pequena), copos plásticos abandonados na mesinha de canto, cola, tesoura, gibi... A cada limpeza, os objetos são devolvidos aos lugares. E, a cada minuto depois, retornam magicamente aos espaços de onde foram retirados.
No quarto dos pais, cama e o "home office" da mãe - com mesa e armário - às vezes viram cabides de roupas espalhadas, livros já lidos e não guardados, celulares perdidos, papeizinhos com anotações importantes, "o chapéu mais bonito da Polly que eu nunca mais achei", etc, etc.
No quarto das filhas, a aparente bagunça esconde, na verdade, uma rotina de brincadeiras permeada por momentos de introspecção. O guarda-roupas de bebê entulhado de brinquedos, que incomoda absurdamente os adultos, não consegue ser substituído. Ninguém na casa idealizou, ainda, um móvel mais funcional para acomodar no mesmo lugar objetos tão diversos como bolas, bolsas cheias de barbies, patins, saco de fantasias, roupas de bonecas, posto de gasolina, carrinhos, ursinhos, bonequinhos e todo tipo de inhos da misteriosa vida das meninas.
Você pode achar que minha casa é uma bagunça. Que somos desorganizados ou até mesmo relaxados. Que não cuidamos do local onde moramos. Não é nada disso. Minha casa, como muitas que conheço, é orgânica. Tem um jeito próprio de funcionar, impossível de ser posto em prática nas casas dos anúncios de mobília. Tem móveis velhos, coisas foras do lugar, louça suja na pia, toalha molhada no banheiro, roupa no cesto sem lavar. Mas é também uma casa que tem vida...

3 comentários:

célia musilli disse...

Bela casa, adorei a descrição. Um bj!

Vivianne Pontes disse...

Carol, queria te pedir autorização para reproduzir seu texto com o link. Posso? Beijo.

Carol disse...

Oi, Vivanne, pode ficar à vontade. Me avisa quando publicar para eu acompanhar:)
Beijo.