sexta-feira, 12 de março de 2010

Em dez anos de reportagem, já cobri muito acidente, muito homícidio e todo tipo de morte violenta. Minha regra é nunca olhar para os corpos mortos e evitar, com bem mais intensidade, a face das vítimas. Mas tem vezes que é impossível, porque a gente chega cedo demais na "ocorrência". E, bem cedo, as coisas ainda estão lá, escancaradas. Me lembro com detalhes de todos os rostos sem vida que encarei. Sempre surpresos e assustados. Sempre de olhos arregalados. O último morto para quem olhei foi o dono de uma empresa de reciclagem na Vila Casoni, assassinado em um assalto. Eu não sabia que o senhor estava dentro do carro parado em frente à firma e fui srpreendida por seu olhar apavorado quando distraidamente fitei o interior do veículo. Passado mais de um ano, a imagem daquele homem apavorado, ainda preso pelo cinto de seugrança, volta à memória sempre que passo pela Rua Caraíbas. Não tenho mais pesadelos, mas também não consigo ficar indiferente. Assim como me comovi, hoje, com a notícia sobre a morte do cartunista Glauco. Com certeza, ele devia estar com uma expressão apavorada, de medo. Que descanse em paz.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Na Avenida Dez de Dezembro, perto da Rodoviária, tem pedintes no semáforo, tem "noiados", tem acidentes, tem assaltos. Agora, lá pertinho, tem também uma pracinha com pista de caminhada, parque infantil, tabuleiros de jogos e academia da terceira idade. Então, agora, ao lado do cruzamento da Dez de Dezembro com a Santa Fé, onde muita gente tem medo de passar, tem crianças brincando, tem mães com bebês, tem senhoras caminhando e adolescentes namorando. A gente mora perto da Rodoviária. Por isso, não tenho medo. Por isso, ao invés de pegar o carro e levar minhas meninas ao Zerão ou ao Igapó (onde também tem assaltos, "noiados" e etc), a gente vai passear a pé na pracinha da Rodoviária. E depois, se der vontade, tomar suco na Casa de Sucos Renato, lá na Rodô. Porque, não importa onde fica, é sempre bom ter um lugar legal pra ir pertinho da casa da gente.

terça-feira, 9 de março de 2010

No primeiro parágrafo de Moby Dick, o marinheiro Ismael, que narra a história, diz que "sempre que sinto na boca um amargor e a alma como se fosse um dia de novembro úmido e chuvoso; sempre que me pego involuntariamente parado diante de empresas funerárias ou a seguir pelas ruas os enterros que encontro e especialmente sempre que minha hipocondria adquire tal domínio sobre mim que é preciso um sólido princípio moral para impedir-me de sair de modo deliberado para a rua e metodicamente surrar as pessoas, significa que é sempre chegado o momento de ir para o mar o mais depressa possível." Estou há alguns dias pensando sobre isso. Porque, claro, tem horas que também sinto impulsos de fugir pro "mar" para não cometer barbaridades. Mas, diferentemente do marinheiro, não tenho uma válvula de escape tão materializada para recorrer nesses momentos. Não há um "mar" na minha vida. E na sua?

domingo, 7 de março de 2010

Nunca me imaginei a vizinha chata que se incomoda com as "baladas" dos vizinhos pós-adolescentes. Mas, depois do quarto fim de semana consecutivo de funks proibidões e músicas sertanejas até as 5 da manhã, bem embaixo da janela das meninas, me enchi. Afinal, a gritaria, a música e as latinhas de cerveja jogadas na rua acordaram Clarice pelo menos umas cinco vezes na mal dormida noite que passou. Li o livro inteiro que a Mari me emprestou, zapeei na TV e até levei a pequena pro nosso quarto, que fica nos fundos. Mas não consegui dormir. Hoje, às 8 horas, a vingança foi perversa. Desde os primeiros momentos da manhã, a trilha sonora na nossa cozinha é punk rock. Periferia, Replicantes, Ratos de Porão, Inocentes e outras gritarias alegraram nosso início de dia e devem ter infernizado os festeiros da noite anterior. Foi de propósito, admito. Mas o resultado foi bem divertido, com a família inteira cantando Sandinista no café da manhã. Definitivamente, quero uma festa punk. E Hey, ho! Let´s go!