terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eu ia postar a história apenas no bloguinho privado. Diante da relevância do assunto, porém, reproduzi aqui a conversinha que rolou dia desses na hora do jantar. Ceci comentava sobre as preferências políticas dos amigos do colégio:
_A G. "vota" na Dilma, a J. "vota" no Serra, a mãe do P. não sabe se vai votar no Beto ou no Osmar...
Até que Clarice, até então ouvindo a conversa da irmã, interrompe:
_Mamãe, na minha escola é a galinha que VOTA ovo, viu???

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ontem, mais uma vez, chorei no trabalho. Às sete da noite, em Apucarana, quando a delegada do Sicride chegou ao hospital com o pequeno Nicholas nos braços, para entregá-lo de volta à família. O bebê, com apenas um dia de vida, foi sequestrado da maternidade por uma mulher que se passou por falsa enfermeira (reportagem completa aqui). Foram quase 24 horas de investigações, mas a polícia fez um bom trabalho e Nicholas, nascido com 3,8 quilos, 50 centímetros, de parto normal, terminou o dia mamando placidamente na mãe.
Às sete da noite, em frente ao hospital, por alguns momentos deixei as lágrimas rolarem. Por alguns momentos, me esqueci que precisávamos da melhor imagem, da melhor entrevista, do melhor jeito de contar uma história que - ufa! - teve final feliz. De olhos marejados, abaixei a caneta e o bloco para agradecer pelo renascimento de uma família.
Não me passou pela cabeça insistir, diante da sensata negativa das autoridades, para estar no quarto no momento do reencontro entre mãe e filho. Assim como não costumo fazer perguntas piegas para arrancar lágrimas e expressões comovidas dos entrevistados. Em frente ao hospital, sequer me senti no direito de querer participar de tal momento. E até me constrangi pela insistência coletiva. A impressão, sempre, é que as pessoas esquecem a vida existente por trás das histórias.
No final, a gente conseguiu a imagem, as entrevistas, a reportagem. Sem apelação, sem invasão, sem intromissão. Com ética e respeito, como deve ser.
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Em casa, depois de 18 horas de ausência, o drama era outro. Clari, quase sempre resistente a doenças infantis, foi derrubada por uma "virose" que trouxe vômito, diarreia, febre e uma desidratação. Longe dos meus olhos - e diante da falta de cuidados de um pediatra que me pareceu negligente -, minha pequena definhou e, hoje, terminou a manhã na sala de observação do hospital.
Enquanto eu estava longe de casa, a avó e o pai acharam que ela estava bem e o médico - sem reexaminá-la - garantiu que era apenas a segunda fase de um quadro viral. Eu, de noite, encontrei-a dormindo. Mas, de manhã, quando vi minha filha prostrada, sem fome, sem vontade de brincar, soube que a situação não era boa. No pronto socorro, o diagnóstico confirmou o que o instinto materno já tinha detectado. Além da desidratação, uma infecção. Ela foi hidratada, medicada e agora repousa ao meu lado, "lendo" pela milésima vez o adorado livro da Branca de Neve.
Satisfeita por ter chegado a tempo de socorrer Clarice, não posso deixar de pensar que, ainda bem, Nicholas também vai ter os cuidados da mãe a cada gripe, dor de garganta, joelho ralado ou misteriosa virose. Depois de um contrubado primeiro dia de vida, esse garotinho merece colo, afagos, carinho e o leite quentinho da mamãe. Que todos eles - mãe, pai, avó, tios e crianças - sejam muito felizes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Clarice fez três anos. Pouco tempo perto de toda a história da humanidade, mas uma eternidade para mim que, de uma hora pra outra, tive que realmente aprender a lidar com a diversidade dos seres humanos. Porque ser mãe da Cecília sempre foi natural. Como eu, minha primogênita é mais introspectiva que extrovertida, troca facilmente os esportes pela literatura, perde tempo com filosofias baratas e cultiva uma certa letargia inerente às pessoas que pensam demais. Além de tudo, é canhota como a mãe, o que me facilitou horrores nos ensinamentos para a auto-suficiência nos primeiros anos de vida.
Clarice é diferente. Mais intuitiva que reflexiva, anda correndo, alheia a obstáculos como quinas de mesa ou brinquedos no chão. Exploradora, estreeou em casa a mania de puxar um banquinho para alcançar coisas no alto e, independente, conquistou o direito de fazê-lo para lavar as mãos sozinha, acender a luz ou pegar brinquedos e livros na prateleira mais alta. Foi por ela que, mãe de segunda viagem e depois dos 30, aprendi a ficar ligada em movimentos bruscos, silêncios prolongados e locais propícios a escapulidas. Também aprendi a argumentar de forma menos racional, pautada pela intuição, mesmo que isso às vezes culmine em conversas sem sentido com uma pequena de três anos. Porque Clarice, ao contrário da irmã, demora a perceber que causas têm consequências. Impulsiva e aventureira, sempre paga para ver, o que me deixa com cólicas ao imaginar que, no futuro, ela possa gostar de coisas do tipo saltar de paraquedas.
Clarice sempre tem solução para tudo e, quase sem pensar, coloca as ideias em prática sem ter certeza de que vai dar certo. Intuitiva, quase sempre consegue. Natália, a amiga imaginária, leva culpa por traquinagens nunca antes realizadas por Ana Pietra, a sensata amiga imaginária dos três anos de Ceci.
Por tudo isso, criar e educar Clarice tem sido o maior desafio da minha vida. Para entender a lógica dela, tenho que desconstruir toda a minha própria lógica, o que demanda me colocar no lugar de uma menina de três anos. Até nas tarefas básicas do dia a dia, "apanho" ao tentar usar a mão esquerda para ensiná-la a realizar tarefas do jeito destro.
É cansativo, mas compensador. Com Clarice, além de viver toda a alegria de ser mãe de uma menininha meiga, esperta e carinhosa, ainda tenho a oportunidade de absorver, diariamente, o jeito de ser das pessoas muito diferentes de mim, o que não tem preço.