terça-feira, 25 de maio de 2010

Daí que minha sogra, coitada, inconformada com minha decisão de não passar mais roupas, ficou com medo que saíssemos amarrotados pela rua e resolveu fazer o serviço. Veio uma semana, duas semanas...Na terceira semana, achei que não era justo e pensei: "bom, se alguém tem de passar, que seja eu, para evitar exploração desnecessária de parentes." E lá fui, ontem, passar as roupas que estavam acumuladas em cima da tábua.
O problema é que a cada manga alisada, cada toalha dobrada sobre a cadeira, ia me sentindo tolhida de um direito fundamental, instituído por mim mesma: o de não passar roupas. Foi me dando uma opressão, uma vontade de gritar, de sair correndo! Silenciosamente, passei a entoar o mantra budista que aprendi na matéria feita no plantão de domingo. Aí me dei conta que, mesmo trabalhando aos domingos, estava sendo obrigada a passar as roupas, e a sensação de injustiça ficou maior que toda a lavanderia, me sufocando como um grande air bag invisível,praticamente a fumaça preta do Lost. Terminei o trabalho cometendo uma transgressão, a de não passar os lençóis com elástico. Não foi suficiente para aplacar a decepção por não ter realizado a verdadeira revolução doméstica.
Ao final, observando o serviço que me consumiu uma hora e boa parte do fígado, a conclusão foi triste. A despeito de tanto sofrimento, tantas lamentações, tantas convicções questionadas, a verdade era única. Dado meu talento para afazeres domésticos, as roupas estavam melhores antes de receberem o ferro pelas minhas mãos.

3 comentários:

Monix disse...

Eu não acredito que uma mulher experiente, macaca velha como você é, caiu na armadilha da sua sogra. Francamente.

Nalu A*) disse...

Eu tô lendo sua saga aqui de ficar sem empregada e admirando, viu? Pq eu queria muito ter forças pra não precisar mais de uma, mas por enquanto não consegui ainda, eu vivo morta de cansada. Mas caso eu consiga, tb não vou passar roupas não... Abraços e boa sorte.

Carol disse...

Hahahaha, pois é. mas analisando friamente, percebi que escolhi um dia de muito poucas roupas para provar que sim, eu posso. mas não quero.